quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Paisagem de Chuva

"Em cada pingo de chuva a minha vida falhada chora na natureza. Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra. Chove tanto, tanto. A minha alma é úmida de ouvi-lo. Tanto... A minha carne é líquida e aquosa em torno à minha sensação dela. Um frio desassossegado põe mãos gélidas em torno ao meu pobre coração. As horas cinzentas alongam-se, emplaniciam-se no tempo; os momentos arrastam-se. Como chove! As biqueiras golfam torrentes mínimas de águas sempre súbitas. Desce pelo meu saber que há anos um barulho perturbador de descida de água. Bate contra a vidraça, indolente, gemedoramente, a chuva..." (Fernando Pessoa)

Nenhum comentário:

Postar um comentário