quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Marianne: Ontem, de repente, fiquei dominada por uma euforia quase temerária e pela primeira vez, de há um ano pra cá, me senti com a antiga vontade de viver, com toda a curiosidade a respeito de a que o dia-a-dia me poderia conduzir... Repentinamente, voltei-me e olhei para a fotografia antiga da minha classe na escola, quando eu tinha dez anos. Julguei que eu tinha encontrado algo, que há muito tempo tinha estado à minha disposição mas, mesmo assim, intangível. Com surpresa sou obrigada a constatar que eu não sei quem sou. Nem um pouco. Eu sempre fiz aquilo que as pessoas me disseram para fazer. Que me lembre, ao longo dos tempos, sempre fui obediente, conformada, o mais bem-educada possível. Pensando bem, acho que tive algumas explosões violentas de personalidade ainda quando menina. Mas recordo-me também que a mamãe punia todas essas escapadas das convenções com dureza exemplar. Toda a minha educação e a de minhas irmãs estava baseada no princípio segundo o qual devíamos ser agradáveis. Eu era bastante feia e desajeitadae era constantemente informada a respeito desse fato. Entretanto, descobri que se eu conservasse o segredo do que pensava e em contrapartida fosse ajustada e previdente, essa atitude dava resultado. A grande e verdadeira falsificação aconteceu justamente na puberdade. Todos os meus sentimentos e ações andavam à volta do erotismo. Não traí isso nem com uma palavra sequer com meus pais, ou para qualquer outra pessoa mesmo. Depois, as mentiras, os segredos, as escapadas, aumentaram que só vendo. Meu pai queria que eu fosse jurista como ele. Dei a entender, certa vez, que acima de tudo queria ser atriz. Ou, pelo menos, queria me dedicar ao teatro de qualquer maneira. Lembro que riram de mim. Depois, continuou tudo na mesma. Nas minhas relações com outras pessoas. Nas minhas relações com os homens. As mesmas constantes dissimulaçoes. As mesmas angustiadas tentativas para ficar dentro da ordem. Nunca cheguei a pensar: o que é que eu quero. Mas sempre: o que é que ele quer que eu queira. Não se trata de uma espécie de desprendimento como eu acreditava antes, mas pura covardia e, o que é pior, um completo desconhecimento de quem eu própria sou. Eu nunca vivi uma vida dramática, me falta todo o talento para tal. Mas pela primeira vez sinto uma tensão violenta diante do pensamento que consiste em procurar saber o que é que eu afinal quero de mim mesma.  (leitura do diário de Marianne em Cenas de um casamento - Ingmar Bergman)

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O desinteressante e o problema do ego contemporâneo

eis o título de uma tese inexistente e escrita na minha mente, complexa demais para passar para o papel.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

se apaixonar é...
descreva aqui qualquer sentimento que tenha destruído sua mente durante o período de mais intenso borboletear no estômago
descreva toda a angústia pela espera por algo que nunca veio
a ficção tão bem narrada em sua mente
os pensamentos mais sujos e prazerosos
os olhares que refletem a luz do dia
os rios de lágrimas
a pieguices das palavras
tanto as escritas
quanto as proferidas
e
por final
o vício que continuamos a prolongar.


a paixão faz a gente voltar para o lugar mais obscuro da nossa mente
como para esse bloguezinho
caótico
cheio de sensações atordoadas
sem sentido
como é a nossa mente
cheia de inseguranças
sem sentido

aqui despontam todas as inseguranças
anseios
e
desejos

jogo

um jogo resumido em não saber quando vai acontecer de novo, amanhã, depois, daqui um mês, ano que vem, nunca mais.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

sentimentos sem palavras

qual palavra define
anseio de alegria e companhia
afetado
por profunda letargia
?