quinta-feira, 18 de setembro de 2014

E pra você que se achava livre, que a sociedade é democrática, um tapa na cara, por Adorno.

A industria cultural de hoje fundou a função civilizatória da democracia da frontier e da livre iniciativa, que de resto nunca manifestou uma sensibilidade muito refinada para com as diferenças espirituais. Todos são livres para dançar e se divertir, como, desde a neutralização histórica da religião, são livres para ingressar em uma das inumeráveis seitas. A liberdade na escolha das ideologias, contudo, que sempre reflete a pressão econômica, revela-se em todos os setores como liberdade do sempre igual. O modo como uma moça aceita e executa o seu date obrigatório, o tom da voz ao telefone e na situação mais familiar, a escolha das palavras na conversação, e toda a vida íntima ordenada segundo os conceitos da psicanálise vulgarizada, documenta a tentativa de fazer de si um aparelho adaptado ao sucesso, correspondendo, até nos movimentos instintivos, ao modelo oferecido pela industria cultural. As reações mais secretas dos homens são assim tão perfeitamente reificadas ante seus próprios olhos que a ideia do que lhes é especifico e peculiar apenas sobrevive sob a forma mais abstrata: personality não significa praticamente - para eles - outra coisa senão dentes brancos e liberdade de suor e de emoções. É um triunfo da propaganda na indústria cultural, a assimilação neurótica dos consumidores às mercadorias culturais, de sentido revelado. (Adorno in: A industria cultural, p. 203-204, 1982)

Esta citação reflete exatamente a sensação que tive ao assistir "The Zero Theorem" de Terry Gilliam.

O mundo publicitado.



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