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do mal, quem sois?
Ele
próprio se horrorizou com esta idéia e quis investigar se, para existir, o mal
tinha necessariamente que ter sido criado. Em seguida, examinou a mesma questão
numa perspectiva mais abrangente. Concentrou-se nas forças da natureza,
atribuindo à matéria uma energia que lhe pareceu apta a explicar tudo, sem que
fosse preciso recorrer à criação.
No
tocante ao homem e aos animais, segundo ele estes deviam a existência a um
ácido gerador, o qual, ao provocar a fermentação da matéria, imprimia-lhe
formas constantes, mais ou menos da maneira como os ácidos cristalizam as bases
alcalinas e terrosas sempre no mesmo tipo de poliedros. Ele considerava as
substâncias fungosas produzidas pela madeira úmida o elo que liga a
cristalização dos fósseis e a reprodução dos vegetais e dos animais, e que
indica, se não a identidade de ambas, pelo menos a analogia existente entre
ambas.
Hervas,
como o erudito que era não teve dificuldades em dar embasamento sólido a seu
falso sistema por intermédio de provas sofísticas bem apropriadas a desnortear
qualquer espírito. Ele achava, por exemplo, que os mulos, que resultavam do
cruzamento de duas espécies, podiam ser comparados aos sais com base composta
cuja cristalização é confusa. A efervescência de certas terras com os ácidos lhe
pareceu bem próxima da fermentação dos vegetais mucosos, e esta lhe pareceu ser
um começo de vida que não tinha podido se desenvolver por falta de condições
propícias.
Hervas
tinha notado que os cristais, ao se formarem, se amontoavam nas partes mais
iluminadas do recipiente, e dificilmente se constituíam no escuro; e como a luz
é igualmente favorável à vegetação, ele considerou que o fluido luminoso era um
dos elementos que compunham o ácido universal que animava a natureza; aliás,
ele tinha acompanhado a luz avermelhar com o tempo os papéis tingidos de azul,
e esta era outra das razões que o levavam a tê-lo como um ácido.
Hervas sabia
que nas altas latitudes, perto do pólo, o sangue, por falta de calor
suficiente, estava exposto a uma alcalescência que não se podia interromper
senão pelo uso interno dos ácidos. Donde concluiu que, já que o calor podia
ser, em determinadas circunstâncias, substituído por um ácido, ele próprio
devia ser uma espécie de ácido, ou pelo menos um dos elementos do ácido
universal. (POTOCKI, Jean. O manuscrito encontrado em Saragoça. p. 259 - 260)
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