Foi no Egito que a condição da mulher foi a mais favorecida.
As deusas-mães conservaram seu prestígio em se tornando
esposas; a unidade religiosa e social é constituída pelo
casal; a mulher surge como aliada e complementar do homem.
Sua magia é tão pouco hostil que o próprio medo do incesto é
vencido e que não hesita em confundir a irmã com a esposa(
1). Ela tem os mesmos direitos que o homem, a mesma
força jurídica; herda e possui bens. Essa sorte singular nada
tem de casual: provém do fato de que no Egito antigo o solo
pertencia ao rei e às castas superiores dos sacerdotes e dos guerreiros;
para os particulares, a propriedade territorial consistia apenas
no usufruto; o fundo permanecia inalienável, os bens transmitidos
por herança tinham pouco valor e não se via nenhum
inconveniente em partilhá-los. Em virtude da ausência do patrimônio
privado, a mulher conservava a dignidade de uma pessoa.
Casava-se livremente e, quando viúva, podia tornar a casar-
se. (Simone de Beauvoi em "O segundo sexo")